Geralmente e, infelizmente com maior frequência do que deveria acontecer idealmente, algumas pessoas públicas - e aqui gostaria de qualificar como pessoas públicas educadores (quer sejam professores, instrutores ou mesmo palestrantes), jornalistas, políticos e afins - entram em um dado ambiente no qual não conhecem todos que ali estejam.
Neste cenário, pode ocorrer algo que, para muitos é uma completa injustiça: a criação de esteriótipos. Neste cenário, estas pessoas que tem um destaque - principalmente por deterem de um maior tempo de fala com relação a todos os outros - podem incorrer em maneiras injustas de tratar com os semelhantes ou, pior de atender às suas necessidades.
Talvez isso que acabei dizendo, por ter sido dito de modo genério, não tenha lhe causado uma primeira impressão concisa e própria ao entendimento, caro leitor.
Não se preocupe, vou exemplificar: tome por exemplo um professor que, ministre uma disciplina esporadicamente - por exemplo semanalmente em uma dada turma. Para a disciplina que ele ministre podem existir pessoas que não tenham certa familiaridade. Se tomarmos uma classe comum de pessoas, temos diversos tipos pré-concebidos de alunos: os nerds, que estarão atentos a tudo e participarão de tudo; os que "não querem nada com nada" e ficarão em seus blocos e panelinhas atrapalhando, ou não, a arguição e; a maioria. Certo?
Errado. Se você chegar em uma situação de falar em público e, se for educador, com esta concepção - estará incorrendo em erro desde o princípio.
Ora, mas como posso estar errado? Pois bem, dependendo da situação você pode ter uma visão um tanto quanto delimitada das pessoas. Isso talvez explice como Einsten poderia tirar conceito "D" em Matemática. Veja, num dado espaço curto de tempo - o ideal é inicar o processo com a apresentação das pessoas.
Esta apresentação não resolve muito, porém abre espaço para que algumas formalidades iniciais sejam estabelecidas e para que o diálogo possa ser estabelecido a todo o tempo. Nesta situação, mesmo que alguém tenha o senso anarquista que tanto lhe atrapalhe no decorrer de seu discurso, conseguirá manter seu roteiro e mesmo colher deste suas contribuções.
Acho que, chegado neste ponto devo me justificar, não? Pois bem, este tema é um tanto quanto crítico - e nele me configuro na sentença de culpado.
Estou acostumado, leitor, a ser sempre o nerd apresentado nos pré-conceitos estabelecidos acima. Pois bem, decidi inovar e - a experiência que tive foi bastante assustadora. Sim, o resultado foi gritante.
Estou participando de um curso - mesmo obrigado, pois para mim seria desnecessária minha participação e - pois bem, decidi ser o do contra.
Onde me sentei na sala? Na última carteira. Como me porto? Às vezes troco umas palavrinhas com meus colegas do "fundão" mas, de modo geral, fico quieto e não respondo ou participo das arguições do instrutor.
Passamos da metade do trajeto. Definitivamente, notei o que eu sempre participei - pipocaram dentre os sentados nas primeiras carteiras os queridinhos do instrutor. E, mais que isso - eu estou no time dos odiados, mas simplesmente por estar sentado onde estou.
Como educador - se é que ainda o sou - para mim esta foi uma situação ímpar e que merece reflexão imediata! De repente, enciumado por não fazer parte do bloco que deveria - tentei há dois dias levantar a mão para participar do processo de aula do professor. Seu primeiro impulso foi me ignorar.
E ignorou mesmo, por quase completamente um dia e meio. Daí em diante, resignava-se, fechava a cara e deixava com que eu comentasse. Mas não fazia uso de meus comentários - ainda que estes tivessem certa relevância e - forçosamente não me encarava feio enquanto falava. Mas que seu semblante insinuava raiva, tenha certeza.
O mais agravante é, não me apresentei mas - dois não colegas também alunos da Universidade de São Paulo - sendo um do mesmo curso que eu, mas que não me conhece, viraram os mártires e exemplos de vida do instrutor.
Fiquei estarrecido. Como eles se tornaram o modelo? Simples, como a história deles pipocou - ao participarem do começo do curso - o professor tomou-lhes como exemplo para todos.
Oras, cursar nível superior é exemplo em um curso básico - mas me recuso a dizer o motivo deste curso leitor, senão minha experiência epistemológica cairá por terra e serei tabulado como anti-ético.
Só sei que sempre tive vontade de inverter os papéis e agora vejo os resultados.
Pois bem, hoje eu sou um modelo de ninguém. Neste momento quem sou ou, o que posso contribuir não contam. Na verdade eu sou um legítimo zero - à esquerda da esquerda.
Senti que, depois que a primeira impressão fica não há mesmo como corrigir e, mesmo que eu tente não irei mudar. E pronto, fiz minha ruptura.
Em sala de aula, eu seria assim? Muito provavelmente e, acima disso, poderia mesmo praticar algo que já vi sendo praticado inúmeras vezes - promover a perseguição e a caça às bruxas.
Afinal, se nós concebermos uma visão prévia das pessoas, tomaremos isso em conta para o julgamento que temos dela até o final do processo. Pois, quanto pior for o julgamento inicial, também pior será as chances de correção que daremos a este sujeito.
Oras, e como podemos promover tal situação se - e sabemos nós - não conhecemos a vida daquela pessoa fora daquele ambiente restrito? Muitas vezes, alguns destes alunos podem ser como Einsten e, no fundo no fundo, nosso modelo de exposição de idéias não lhes contemplar.
E aí, expando para o cenário político - muitas vezes o cidadão comum que despreza-se, pode ser o portador da resolução de alguns problemas sérios e - bastava ouví-lo para ter a idéia chave de resolução.
Enfim, não quero me prolongar - porém, vale a pena a reflexão. Como tratamos às pessoas que subjugamos ou imaginamos incapazes de algo? Será que estas pessoas não merecem uma chance?
Voltando para a minha situação, o curso termina sexta-feira e, terei de manter minha posição. Mas agora pelo menos como pessoa, educador, administrador ou, o que eu vier a ser profissionalmente, irei rever os meus conceitos.
E você?